Quarenta anos de crise – Parte I
Então é isso ai! Essa é a tal crise dos quarenta anos que ouvira falar quando era novo! Ultimamente não tenho ouvido mais. Mas, quando se vai fazer quarenta anos... bem...
Tenho essa propriedade de pensar profundamente a cerca de tudo. E quarenta anos de vida é um prato cheio. Minha família nunca me deixa na mão, de forma que eu posso filosofar mais tranquilamente. Não por muito tempo. Alguns que me conhecem há muito, os mais próximos cogitam de minha razão econômica. Argumento que muito me esforcei para ser quem sou e ter o que tenho. Caso tivesse me esforçado o mesmo tanto para ter dinheiro estaria rico.
Sei o quanto de tudo eu sacrifiquei. Mas a vida é de sacrifícios, dizem alguns.
Aprender, saber, foi meus primeiros desejos num pedido com os olhos fisgados no fugidio palpitante e multicolorido brilho das estrelas. Fascinava-me. Aqueles pontos brilhantes prendiam meus olhos à noite. De tanto olhar vi muita coisa se movendo lá em cima. A primeira vez tinha quatro anos.
Tive a nítida impressão de que determinada estrela saiu de seu lugar descrevendo um arco invertido para baixo deixando atrás de si um rastro largo e denso de luz flamejante. E, chegando a seu destino o rastro desaparece e a estrela continuou parada por toda a vida desde então. Sempre suponho ser a minha estrela guia, e penso que ela observa todos os meus passos; não interfere, apenas registra. Está lá no céu até o dia de hoje. A vi, morava ainda pequeno em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, no bairro Esplanada. Meu pai, Hélio (nome de um elemento químico) Emerich (cidade alemã), trabalhava na Éberle, nossa casa ficava pertoa da Marco Pólo (Explorador Italiano do século XV), que construía “ÔNIBUS”.
Nasci em Jacinto Machado aos vinte dois dias do mês de agosto de 1968, signo de leão, há quarenta anos! Mas por conta deste destino fomos para Caxias do Sul. Em 1974 meu pai desencarnava vitimado pela leucemia, caracterizada por um aumento do número de leucócitos, existência de leucoblastos no sangue. Minha mãe volta para Jacinto Machado, e traz consigo, nascido nos pagos gaúchos, nas dependências do Pompéia (cidade da Era Mitológica soterrado pelo vesúvio), meu irmão Adelor Emerich. Era começo de ano, eu já havia sido matriculado na escola gaúcha, e fazia a transferência da matrícula para a Escola Básica Santa Terezinha.
Sim! Lembro-me muito bem. Minha Primeira Professora foi a D. Marina. Descobri que eu poderia ler! Escrever! Saber coisas! Queria aquilo mais do que tudo. Minha alegria era imensa, eu dizia que queria aprender a Palavra Mundo: aprender a escrever “MUNDO”!
Quarenta anos de crise – Parte II
A Palavra Mundo
Queria conhecer o mundo. Tudo! E, ler era maravilhoso, saber das coisas lendo! Imaginava em minha mente de seis anos que para saber escrever a palavra “MUNDO”, teria que saber de tudo do mundo. No Mundo estava tudo! E eu queria conhecer tudo.
Fui o primeiro da turma a prender a ler, eu simplesmente lia tudo o que era letra, não perdia nada. Cartaz, placa, onde houvesse letras eu lia. A mais difícil na época era Dizer “ATLÂNTICO, nome de um posto de gasolina de então, que me escapa o proprietário, de qualquer forma o precursor dos postos de gasolina é o “Dido do Posto”. Sujeito simpático, que sempre sorria leve. Ao olhar para ele eu tinha a impressão que tudo estava bem. Seu sorriso era afável, e pensava que enquanto ele sorrisse, eu poderia ficar tranqüilo. Sua esposa, sempre discreta e reta, tinha um charme aos meus olhos de menino, e via nela uma luz dourada que brilhava, e ainda hoje, sua luz doira sua aura... e sorri discretamente.
Quarenta anos de crise – Parte III
A Biblioteca
Um dia, não sei como, fui parar na prefeitura, e dei de cara com a biblioteca. Uma moça magra, alta e muito gentil com interesse, me explicou que somente poderia fazer carteirinha de leitor, passando a ser sócio da biblioteca, quando chegasse à quinta série. Não perdi tempo reclamando da má sorte. Comecei a esperar ansiosamente pelo “ano que vem”!
Não demorou. Um dia fui ao dentista, Dr. Vanderlei, depois do meio dia, já previamente combinado com minha mãe, que antes passaria na biblioteca para fazer a “carteirinha”. E fiz! Peguei o Livro “Macaco Simão”.
No livro dois ratos querendo repartir um queijo procuram por Simão, o macaco, para que lhes ajudasse na questão. O macaco partiu o queijo ao meio, mas não ficara bem dividido, e um dos ratos não querendo ser prejudicado na partilha, reclama. O Macaco coça a cabeça e decide comer um pedaço do queijo maior na esperança de igualar as partes. O que não acontece, e o outro rato agora reclama que a parte dele está menor. O macaco coça a cabeça outra vez, e sem ter nenhuma outra idéia, decide comer um pedaço da parte maior. O que tão pouco deu resultado, e outra reclamação se fez, o que resultou em mais menos um pedaço de queijo. Com a seqüência reclamações, o queijo acabou.
Fiquei olhando para o fim da história meio sem jeito. Os ratos de olhos esbugalhados e o macaco espantado olhando as próprias mãos espalmadas para cima e vazias. Não conseguia decidir se o macaco fizera tudo bem intencionado, ou fora de caso pensado. De qualquer maneira a culpa é dos ratos que para não ficarem com menos, acabaram sem nada. Ainda assim minha mente filosófica tinha mais uma questão a resolver: Ou o macaco não sabia dividir e comeu o queijo por não ter outra idéia melhor, ou enganou os gulosos; entretanto os camundongos somente foram enganados por que não sabiam dividir. Conclui então que: “quem não sabe dividir fica sem nada”.
Li três vezes a história antes de ser atendido, e sai do consultório e fui correndo para a biblioteca trocar de livro.
Decepção total! Com muito tato por se tratar de um menino franzino de dez anos que amava os livros, Iria Just, a guardiã da Biblioteca Pública, explicou que somente poderia trocar de livro no outro dia. Ela não me conhecia e acreditava que eu não lera o livro, mas que, conforme era costume das crianças, apenas olhara as figurinhas. Fui desolado para casa, mas firme, o outro dia já era amanhã. Fui deitar mais cedo para pensar bastante.
Quarenta anos de crise – Parte IV
Pensando de Noite
Por preferir tudo bem entendido acabei escritor. O escritor começa escrevendo para organizar as idéias, depois passa a fazer ligações entre elas com palavras escritas; as idéias discorrem no papel em palavras felizes em sair do lápis.
As idéias também germinam, o Filosofo Grego Platão, há dois mil e quatrocentos anos asseverou que há um mundo das idéias, donde tudo tem origem. Pequeno ainda gostava de deitar cedo, enquanto ainda não tinha sono, para ficar pensando. Imaginava todas as coisas que meu conhecimento permitisse. Eu via uma realidade que ninguém mais via, e, com efeito, vivia entre as duas, mantinha o corpo nesta, mas o meu mundo era o das idéias.
Assim foi que minha visão se ampliou além do alcance e passei a ver o outro mundo. Seres que eram transparentes e atravessavam paredes. Alguns eram horripilantes, outros, míticos.
As idas á biblioteca se tornaram freqüentes. Virei amigo da Iria e do Professor Vircio Recco, digníssimo professor de português, redação e literatura, de Jacinto Machado. Foi ele quem me deu a Primeira Grande Dica: escrever o resumo dos livros que lia em um caderno, num modo de ficha de leitura corrida. Para minha alegria maior ainda, além do livro, sai da biblioteca, com uma borracha, um lápis e um caderno. Era o meu dia de sorte! Comecei escrevendo sobre todos os livros que lembrava; os livros que me permitiam pegar eram os infantis e fininhos, já havia lido muitos. Assim aprendi a organizar idéias, mas a minha letra nunca “garro jeito”.
Aprendi ainda como escrever idéias, e é o que há de mais perigoso contra as estruturas do poder. Um indivíduo que pensa é perigoso, um que sabe descrever a idéia deve ser ignorado. Para disfarçar começaram a denominar o ato de descrever idéias de “ARTE” e posteriormente chamaram de “LITERATURA”. Pronto. Estava formado o fosso que separa a descrição da idéia, da compreensão do texto.
O Gaúcho Mario Quintana, respeitável Poeta anjinho da asa quebrada, a vagar obrigado por este mundo, entre essa gente rústica e de maus modos, escreveu com tristeza que:
“O poeta pensa uma coisa, escreve outra coisa e o leitor entende uma terceira coisa, no final, a coisa propriamente dita começa a achar que não foi propriamente dita”.
Humberto Gessinger, Gaúcho e talvez por isso mesmo, também cerra os punhos contra o desleixo da compreensão da idéia e canta em sua milonga:
“Tudo se presume, se resume, se reduz, no final, o principal, fica fora do resumo principal!”
Está dito. Quem pensa sabe que descrever uma idéia exige persistência e determinação e que uma coisa depois de vista não pode mais ser ignorada. Tudo o que se vê influencia no que se pensa. Vigiar o que se vê e analisar tudo o que é visto é hábito constante de quem pensa. A matéria prima da mente é a vida. Não dá pra engolir sem mastigar. Abastadas vezes o gosto vem amargo, mas um conhecimento, uma vez adquirido não pode mais ser escarrado, e, engolir sem mastigar é congestão na certa. Mas todos querem tudo já mastigado, então para não ficar amargo arrancam o principal e entregam nas nossas mãos apenas as partes macias e leves, e suaves, e etéreas, sutis, fugaz, efêmeras.
Os reis aprenderam sempre rapidinho essa lição: Não divulgar o conhecimento e usá-lo covardemente para explorar os que ignoram. Quem quiser manter o poder precisa explorar a ignorância. Passei então a detestar Maquiavel e a olhar vigilante para quem elogia “O príncipe”. Mas, admirei Nietzsche.
Ler me fez ver que é preciso que tudo seja bem entendido. Amei a sabedoria! E, por amar demais o mundo das idéias, tornei-me filósofo!
Quarenta anos de crise – Parte V
Minha escolaMinha escola está na minha memória. A diretora era a “D. Quita”, Srª Maria Benta Pereira Tuon, que mantinha o educandário em ordem e com disciplina.
D. Ana batia a ”sineta” e todos os alunos se postavam em fila indiana, e muitas vezes recebíamos a ordem de: “Cobrir!”, o que fazia com que levássemos nossas mãos direitas sobre o ombro do individuo à frente. Ai de quem piasse ou fizesse qualquer gracinha. Quando “D. Quita” estava à frente dos alunos em fila, as respirações se reduziam ao mínimo suficiente para não fazer barulho com o ar.
Não entendia nada daquilo, fazia apenas porque era para fazer. Tinha também o “gabinete da D. Quita”. Contavam os mais velhos que feras habitavam o gabinete, os alunos, também eu, evitavam sobremaneira se aproximar, mesmo pelo lado de fora.
Gostava da sopa de feijão e de ficar parado olhando tudo.
Ficava curioso com a garotada jogando bola. Tentei jogar futebol algumas vezes quando criança, mas desisti. Todos corriam ao mesmo tempo em direção da bola e chutavam indiscriminadamente qualquer coisa entre o pé e a bola, incluindo canelas e joelhos. Voltava para os livros e à observação do ambiente, inclusive das pessoas.
Quarenta anos de crise – Parte VI
A competição
Não penso ser melhor que alguém. Nunca pensei. Quando criança, no período escolar via as atividades de “Educação Física” como um meio de interagir com os demais alunos: esportes e atletismo seriam apenas modos de relacionamento. Mas os alunos, instigados pelos adultos, queriam vencer, ganhar e comemorar. Os perdedores ficavam tristes e desolados, e eu me apiedava. Tinha pernas grandes e fortes e sabia que ninguém conseguiria ganhar de mim correndo na areia, eu costumava correr de pés descalços sobre pedras, na areia era muito fácil. Mas não gostava de ganhar, por que ficava um perdedor. Fui assim me afastando dos esportes e acabei sendo encarado pelos demais, alunos e professores, como uma pessoa inapta. Não sentia falta, tinha tudo o que precisava: uma biblioteca cheia de livros. E lia sem parar.
Essa tendência a não competir se manteve por toda a vida. Em qualquer jogo onde ganhar era mais importante eu perdia. Já os jogos de computador não têm a mesma sorte, não tenho nenhum sentimento em derrotá-lo, apenas sei que é preciso ser habilidoso e inteligente para vencer o programa.
No trabalho a tendência se manteve. Não conseguia imaginar que eu estava ocupando o lugar de alguém. Não queria ser o melhor da empresa, queria isto sim, servir com eficiência. Trabalhamos para servir a comunidade, não para ser o melhor de todos e ficar muito rico. Embora possamos ficar ricos trabalhando, o que quer dizer que então temos muitos compromissos com outras pessoas e empregados. Não consegui ficar rico por abandonar o campo de batalhas que se tornou o mercado de trabalho. Qualquer um é capaz de qualquer coisa para manter seu emprego. Se alguém tinha que cair fora podia ser eu. Sempre me restou os livros e o lápis numa folha em branco, e a certeza de que competir para ganhar não é comigo.
Quarenta anos de crise – Parte VII
Percepções
De pequeno percebia a diferença entre mim e os demais. A razão desconheço, mas a diferença existe. As brincadeiras e modo de viver das crianças era curiosidade para mim, eu não fazia parte daquilo. Tudo era algo a ser desvendado. Os insetos, o vento, a chuva, as estrelas, o sangue, o estômago, o pensamento, e todo o meio ambiente ao meu redor.
Minha família não tinha televisão, não me fazia falta a princípio, pois passava minhas horas do dia a observar atentamente a natureza. Aranhas tecendo teias era fascinante de assistir, permanecia horas em silêncio esperando o trabalho ficar pronto e depois horas esperando um inseto cair na armadilha e verificar o que a aranha faria. Vespas duelando com aranhas, sapos acasalando, marimbondos e joões-de-barro coletando barro em bolinhas, besouros levando bolas de esterco para o ninho, formigas trabalhando, observando até reconhecer que formigas diferentes tinham funções diferentes na sociedade.
Havia os humanos. Para aquele menino de seis a dez anos os humanos era intrigantes. Uns riam muito e alto, outros choravam muito e passavam o tempo reclamando, outros falavam de dinheiro o tempo todo, outros falavam dos outros.
Os livros que lia os lia por explicarem o mundo e por trazerem informações das partes outras do mundo as quais eu não tinha acesso “in loco”. Não lia porque era bom, porque precisava ler. Ninguém nunca, mas nunca mesmo, me disse que era bom ler. Eu lia porque queria informações sobre o mundo e os humanos. Eu queria saber tudo quanto me fosse possível saber.
Não gostava das costumeiras traquinagens infantis, e na maior parte do tempo vivia sozinho, vez que outra me juntava aos amigos do bairro ou da escola, mas por pouco tempo, eles gostavam de futebol e de luta, aquilo era desperdício de tempo. Já os conhecia e sabia como agiam, e agiam sempre da mesma forma. Os livros sim eram emocionantes, sempre terminava um livro com alegria, com satisfação, corria à biblioteca pegar outro, era na média de dois livros por semana.
Tinha ainda os gibis. Lia-os as montes, emprestava, trocava, comprava, onde houvesse gibi lá eu estava, e os jornais também.
Era costume na época ir ao açougue comprar carne. D. Jurema e mais tarde o Lauro, colocavam a carne numa sacola plástica e embrulhavam em um jornal. Bem, a carne ficava embrulhada apenas até alguns passos do açougue, depois o jornal vinha para minha mão, e voltava lendo para casa sem a menor pressa. Apesar das rígidas advertências de minha mãe, a situação se repetia sempre que tinha em minhas mãos algo que eu pudesse ler.
Ainda tinha a biblioteca da escola, a biblioteca da igreja além da biblioteca pública, que era riquíssima, tinha tudo o que se precisasse. Todos os clássicos, e as novidades, embora para mim tudo fosse novidade.
Na quinta série já sabia ler e escrever e os professores perderam a graça. Enquanto lecionavam eu sentava na última carteira e lia durante todo o período de aula. Minhas notas eram péssimas, mas o avanço progressivo na década de setenta me beneficiou. Entre a quinta e a oitava série (onze e quinze anos) li sobre a história do Brasil, O Sítio do Pica pau amarelo, a mente, os clássicos da literatura, poderes paranormais, ficção científica, queria saber como funcionava o pensamento, e queria entender Deus, a criação do mundo e a ressurreição de Jesus. Não tinha tempo de aprender matemática escolar com colchetes e “a vezes b”, mas os livros que me entregavam nas mãos eu lia todos, de história, português, ciências, inclusive os de matemática. Sexo também me interessava muito. Mas era do tipo romântico, e freado pela religião me mantinha afastado sobremaneira de contatos sexuais.
Em resumo, passava os dias e as noites lendo, e, com quinze anos comecei a escrever minhas idéias a respeito de tudo.
Quarenta anos de crise – Parte VIII
De mal com Deus
Batizado na igreja católica cresci respeitando profundamente o sagrado. Os mandamentos, os sacramentos e o evangelho norteavam minha vida. Sentia por observar cuidadosamente a vida, que algo superior deveria administrar tudo o que via. Sabia com certeza que estava sendo observado, até porque via o mundo invisível que muitos poucos viam e vêem. Deus era um fato, não uma teoria. Acreditava na existência de Deus como acreditava na existência dos neurônios.
Então estava tudo bem. Deus comandava a vida. Nós, mortais, precisávamos seguir as leis de Moisés, os mandamentos e Jesus, estaríamos a salvo e iríamos para o paraíso. Estava tudo bem até que enveredei minha curiosidade insaciável a atualidade nas mais diversas partes do mundo. Fiquei chocado com a china, com a URSS, a Alemanha oriental e particularmente chocado com a África e sua miséria, em especial com as crianças morrendo de fome.
Adultos que não respeitam as leis podem sofrer por isso. Mas crianças?! Não aceitei o fato. “Tudo é como Deus quer” me diziam, mas com que propósito Deus haveria de querer crianças morrendo de fome? E porque eu tinha que pagar pelo pecado de Adão? Protestei. Tentei ler a Bíblia Sagrada com mais atenção, participar mais das missas, até virei catequista. Mas não encontrava respostas para a miséria humana. Porque uma criança nascia em “berço de ouro” e outra para morrer de fome? Deus era seletivo, estava óbvio, eu não entendia por quê.
Com quatorze anos e ciente da complexidade do cérebro humano chamei Deus para uma conversa. Era um domingo de manhã, antes da missa tinha catequese, sete e meia mais ou menos, bradei aos céus: “Senhor Deus me desculpe, mas estou com sérias dúvidas a seu respeito, tenho muito medo do inferno, mas não será por isso que vou engolir o que me dizem. Nos deste um cérebro e inteligência certamente para pensar e raciocinar, e não para aceitar as coisas como são e pronto. Então usando da minha inteligência vou pesquisar a verdade e a partir deste momento estou duvidando de sua existência. Peço que me perdoe a ousadia mas sabes que tenho razão em pensar assim”.
Não fiquei mais muito tempo na igreja, comecei a pesquisar outras religiões e outros deuses, e pensava se todos iriam para o inferno por não serem católicos.
Na época ainda conheci a Seicho-no-ie, uma filosofia budista que me abriu novos horizontes, mas todos ali falavam muito em dinheiro e rezavam para ficarem ricos. Freqüentei por dois anos as reuniões e não progredia, então abandonei a filosofia e não entrei em nenhuma outra.
Por muitos anos ainda fiquei a procura de Deus e somente me tranqüilizei quando conheci Allan Kardec e o espiritismo, onde encontrei eco para as minhas observações. O ser humano era o gerador de seu próprio destino, Deus não crea sofredores, o espírito é imortal, cada um responde por seus atos, estamos evoluindo e a reencarnação é estágio necessário na evolução do espírito. Estava em paz com Deus, a história é que estava pela metade.