quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A sociedade da saciedade


  • Primeiro querem acabar com a fome, depois querem uma cama boa para dormir bem. Depois uma morada segura e confortável. Depois constroem cercas para impedir a entrada dos vândalos. Depois se reúnem em associação e contratam alguns para policiarem os vândalos. Prenderem os vândalos. Exterminarem os vândalos. A associação cresce e então querem eleger alguém para cuidar dos assuntos pertinentes a associação. Escolhem um que esteja o mais afinado possível com a idéia geral da associação, que saiba de antemão que a associação quer matar a fome, dormir bem, morar com conforto, erguer cercas e manter os vândalos afastados.
    A medida que os confortos são mantidos outros se fazem necessários. A indústria se fez necessária para a produção dos itens confortantes. A Associação virou sociedade e os vândalos aumentaram, ladrões começaram a se manifestar entre os associados. A corrida para viver bem e aproveitar os prazeres da vida fez de qualquer forma de ganhar lucro uma forma de trabalho.
    Então, dentro desta sociedade que não quer passar fome, ou mesmo necessidades, não há qualquer desenvolvimento cultural, mental e espiritual. Claro, estes não pensam em coisas como “a morte é o fim de tudo?”. “Qual o sentido da vida?”. O termo cultura é discutível, pois a própria formação da sociedade é uma cultura. Então, estes que procuram a saciedade não se importam com quem esta morrendo de fome, com quem dorme na rua, com quem está desconsolado. Para eles a morte é certa. Morrer bem ou mal é problema do moribundo. Ser rico ou ser pobre é questão de inteligência, esperteza, sagacidade, os tolos morrem pobres e esperneando por melhores condições. Estes cérebros não tem qualquer outro anseio ou desejo que não o de saciar seus próprios anseios e desejos de fartura. Fazem festas, tocam músicas, inventam cultos, tudo com a mesma algazarra com que tomam litros de vinho e arrancam as roupas uns dos outros.
    É um cérebro bastante simples. Com conceitos igualmente simples, macacos não teriam melhor idéia de como viver a vida. Estamos na terra, dizem eles. Com isto querem dizer que não se tem outra escolha a não ser viver como os animais que vivem na terra: comer, dormir e trepar. Assim como qualquer outro animal, estes seres humanos não pensam na morte, não pensam no bem e no mal. Não tem compaixão e realmente não se importam com os que sofrem, e são capazes de arrancar sanduíches das mãos das crianças. Tudo bem pra eles, na terra é assim. Não sentem remorso, não sentem culpa e não têm piedade.
    Falar de caridade, auxílio ao próximo, ciência, educação, arte e cultura, é perder tempo e se expor ao maligno olhar perscrutador deste ente sem alma que agora passará a considerar tal pessoa como tolo, louco e lunático. Os materialistas não entendem: “Como assim pensar nos outros?”. Para estes, cada um tem que cuidar de si. Não há tempo para tais besteiras. Quando confrontados com energia eles escapam com o grande chavão guardado: “Se existe alguma coisa para depois da morte quando chegar lá eu vejo o que faço”. Qualquer um que medite sobre tais questões é considerado pelos capitalistas com um tolo e tratado como tal.
    O progresso científico e tecnológico que se observa é motivado pelo desejo de conforto e busca por segurança, contra os terríveis seres que querem roubar tudo o que é seu. Uma paranóia se instala. Mais a total escuridão espiritual, temos predadores selvagens bem vestidos, em carros digitais, com odores de perfumes caros, procurando o topo da pedra grande para urrar mais alto e se marcar como o senhor da selva.
    Mas se você lê estas linhas e chegou até aqui então precisa decidir de que lado você está. O que significa dizer que a vida não só isso? Qual o significado da vida? Qual o sentido? Você pensa que pode haver vida após a morte? Que uma espécie de corpo de energia sobrevive a morte do corpo de carne e osso?
    Nenhuma destas perguntas interessa? Então você é materialista, capitalista e niilista.
  • Estas perguntas perambulam pela sua mente? Então sua filosofia é metafísica e você é espiritualista.
  • Claro que você pode ter uma metafísica e uma espiritualidade muito tosca. E pode estar bastante misturada ao capitalismo e ao niilismo, numa espécie de luta entre luz e trevas na sua mente.
    Então você pode ser um espiritualista capitalista acreditando que deve procurar viver bem, que você está na terra, e que aqui cada um responsável por si mesmo e pelas consequências dos seus atos. Você não tem nada que ver com a dor e miséria dos outros. Você está fazendo a sua parte. Merece até os parabéns.
    (continua...)

2 comentários:

Charada man disse...

Uma pergunta inquietante me perturba neste momento sem qualquer distinção de qualquer outro: por que sofrer? De que natureza falamos quando não conseguimos nos livrar dos sentimentos que nos perturbam ou distorçem nossa noção do real, e no fim, qual é esta natureza do real a que nos apegamos? O que criamos quando sentimos? Qual é esta qualidade??????????? Nada mais do que perguntas, vejo cada vez mais que é qualquer movimento humano, ou seja lá o que for...

Antenor Emerich disse...

Entendi por que bvoce se chama CHARADA MAN" hehehehe